O Parque das Nações é um dos bairros mais modernos de Lisboa e por si só uma atração. É um bairro que nasceu a partir da Exposição Mundial de 1998 – a EXPO’98 – ou, oficialmente, Exposição Internacional de Lisboa, realizada entre 22 de maio e 30 de setembro de 1998, que tinha como tema “Os oceanos: um património para o futuro” e cujo objetivo era comemorar os 500 anos dos descobrimentos portugueses.
A região escolhida para a EXPO’98 foi o limite oriental da cidade junto ao Rio Tejo, que naquela época era uma área industrial abandonada. Nessa área foram construídos diversos pavilhões, dos quais vários permaneceram de pé, ressignificados e integrados ao agora denominado Parque das Nações.
A EXPO'98 atraiu cerca de 11 milhões de visitantes. Parte do sucesso da exposição se deveu à sua vitalidade cultural. Seus cerca de 5.000 eventos musicais, por exemplo, a caracterizaram como um dos maiores festivais musicais da história da humanidade. Do ponto de vista da arquitetura, a EXPO’98 revolucionou essa parte da cidade, tornando-se um exemplo de revitalização urbana bem sucedida – principalmente levando em conta que seu projeto arquitetônico e urbanístico foi todo realizado por computação gráfica.
A noite de encerramento da EXPO’98 foi considerada gloriosa, já ao nascer do dia 1º de outubro, com cerca de 215 mil pessoas – número estimado, já que a certa altura foi necessário, por razões de segurança, destrancar todos os portões de acesso –, graças à quantidade de gente que se concentrou para ver a queima de fogos de artifício de encerramento, a maior já realizada em Portugal.
Entre 1º e 15 de outubro, a área ficou fechada ao público, reabrindo, já com a denominação de Parque das Nações, no dia 16, uma sexta-feira. Nesse primeiro final de semana, o Parque das Nações recebeu mais de 100 mil visitantes para o Oceanário e o Pavilhão do Futuro, do Conhecimento dos Mares, que permaneceram com suas exposições até o dia 31 de dezembro.
Gradualmente, os pavilhões foram sendo adaptados, transformados ou ampliados, enquanto outros eram desmontados, dando lugar a uma nova realidade urbana nessa região. Muitas áreas do Parque das Nações foram sendo gradualmente vendidas para a construção de edifícios habitacionais ou de escritório. No fim do processo, o Parque das Nações havia se tonado o bairro mais moderno da cidade, concentrando áreas comerciais, culturais e de lazer com uma vista privilegiada do Rio Tejo.
Não sou um especialista, mas, juntando um pouco da minha experiência e informações institucionais, acredito que será possível fazer um roteiro interessante desse bairro tão novo e tão moderno, que contrasta, sem maltratar, com a velha cidade de Lisboa.
GARE DO ORIENTE
Se você estiver hospedado na região central da Lisboa – o que é o mais provável –, a melhor opção para chegar ao Parque das Nações é a Estação Oriente de Lisboa, também conhecida como Estação Gare do Oriente ou somente Gare do Oriente, entre outros nomes. Terminal, ao mesmo tempo, de autocarros (ônibus), metro (metrô) e de comboios (trens), é o ponto de chegada mais fácil e mais rápido.
Projetada pelo arquiteto e engenheiro espanhol Santiago Calatrava – o mesmo do Museu do Amanhã e da Ponte Estaiada do metrô da Barra, no Rio de Janeiro – a Gare do Oriente é uma maravilha da arquitetura moderna e chama a atenção de longe pelo seu formato em arcos estilizados feitos de vidro e aço. Sua arquitetura inovadora deu a ela o Prêmio Brunel de Arquitetura de 1998, prêmio concedido a companhias ferroviárias como incentivo ao design excepcional em arquitetura, arte e decoração ferroviária, técnicas de infraestrutura e integração entre o meio ambiente e a frota de trens.
CENTRO VASCO DA GAMA
Bem em frente à Gare do Oriente fica o Centro Vasco da Gama, um arrojado shopping center com características arquitetônicas únicas, com 170 lojas, que incluem 33 restaurantes, 6 salas de cinema, um health club e diversos serviços de atendimento ao cliente. Basta atravessar a Av. D. João II ou uma das duas passarelas suspensas que cruzam a avenida.
Além de abrigar uma ampla variedade de lojas de algumas das marcas mais conhecidas internacionalmente, o Centro Vasco da Gama oferece fantásticas esplanadas com vista panorâmica sobre o Rio Tejo, sendo um ótimo ponto não apenas para compras como também de parada para descanso num final de tarde, por exemplo.
Outra característica que chama a atenção é o fato de, dentro do espírito proposto pela EXPO’98, seus três pisos simulam o ambiente do interior de um grande navio. Assinado pelo arquiteto José Quintela, o projeto apresenta uma concepção inovadora e características arquitetônicas únicas, que destaca o espaço central aberto desde o piso inferior até à cobertura.
TORRES SÃO RAFAEL E SÃO GABRIEL
Embora não sejam propriamente pontos turísticos a serem visitados – a não ser que você tenha bastante bala na agulha – as Torres São Rafael e São Gabriel são dois ícones do Parque das Nações que merecem uma paradinha para olhar para o alto. Trata-se de dois emblemáticos prédios residenciais de luxo, situados um de cada lado do Centro Vasco da Gama. Ambas com 110m de altura, essas torres são os edifícios habitacionais mais altos do país, tendo-se tornado num ícone do skyline lisboeta. Seu design arquitetônico tem como inspiração, na linha de praticamente tudo o que existe no Parque das Nações, as caravelas utilizadas pelos portugueses na época dos descobrimentos
Constituídas por apartamentos de tipologia T2 (2 quartos) a T4 (4 quartos) duplex, distribuídos por 24 andares, continuam a ser dos prédios residenciais mais caros da cidade de Lisboa, oferecendo uma vista fantástica para o Rio Tejo e para a cidade com a ajuda das suas características arquitetônicas, que contam com grandes paredes envidraçadas na maior parte da construção, acabamentos de luxo, tecnologia e localização.
As duas torres são acréscimos posteriores ao fim da EXPO’98. A Torre São Gabriel foi a primeira a ser construída, em 2000, e a Torre São Rafael, em 2004.
HOMENAGEM A D. JOÃO II
Saindo do Centro Vasco da Gama e tendo a Gare do Oriente à sua frente, olhe à esquerda. Ao final da Av. D. João II, a cerca de 700 m, fica a Praça do Príncipe Perfeito, inaugurada em 1998 em homenagem a D. João II (1455-1495). Durante o reinado desse monarca, conhecido como o Príncipe Perfeito, os grandes descobrimentos marítimos dos portugueses sofreram um grande impulso. Foi nesse período que os portugueses percorreram pela primeira vez boa parte da costa ocidental africana; que Bartolomeu Dias conseguiu ultrapassar o famoso Cabo da Boa Esperança – ao sul da atual Cidade do Cabo (Cape Town), na África do Sul; que os portugueses, por terra, prepararam, através de Pero da Covilhã e Afonso Paiva, a viagem de Vasco da Gama à Índia.
Na praça existe, em homenagem a esse rei, uma estátua em bronze, com 24m de diâmetro e 7m de altura, do artista Manuel Rosa. A obra, de características abstratas, remete a uma mutação antropomórfica, uma figura dobrada sobre si mesma, perfazendo praticamente um círculo, sugerindo o carácter e o papel visionário e renovador desse monarca.
Não acredito que valha a pena uma caminhada até a praça, que fica no encontro da Av. D. João II com a Av. Ulisses, um local movimentado e pouco amigável, apenas para admirar a estátua. Mas fica o registro, caso, por alguma razão você passe por ela (se, por exemplo, você estiver de carro alugado ou de taxi).
ALAMEDA DOS OCEANOS
Voltando ao Centro Vasco da Gama, se você sair dele pelo lado oposto ao da Av. D. João II, o outro ponto de acesso a esse shopping center é a Alameda dos Oceanos. Começando na Rotunda República da Colômbia e terminando na Rotunda Expo 98, num percurso de 2km, no lado oposto do bairro, a Alameda dos Oceanos é uma das três artérias paralelas do Parque das Nações, junto com a Av. D. João II e a Av. Infante D. Henrique. Parte importante dela, entre a Rotunda dos Vice-Reis e a Rotunda República Argentina, é uma via de pedestres. É nesse trecho que se encontram algumas das atrações mais icônicas do Parque das Nações.
GIL, MASCOTE DA EXPO’98
O primeiro destaque fica para as duas estátuas de Gil, o mascote da EXPO’98, cada uma com 5m de altura. Uma fica voltada para a Rotunda República Argentina, tendo à sua esquerda o Pavilhão do Conhecimento, e a outra, de frente para a Rotunda dos Vice-Reis, no extremo oposto. Concebido pelo pintor e designer António Modesto e pelo escultor Artur Moreira, o mascotinho da EXPO’98 recebeu este nome como resultado de um concurso entre crianças das escolas de todo o país, ganho por José Luís Coelho, um aluno do 4º ano de uma escola de Barrancos, na região do Alentejo, que escolheu este nome para homenagear o navegador Gil Eanes, que viveu no século XV. Eanes foi o capitão de uma barca que conseguiu ultrapassar o Cabo Bojador, na altura do Marrocos, que era o ponto mais a Sul que os portugueses conheciam da costa ocidental africana até então.
Embora, obviamente, não se trate de uma obra de arte digna de destaque, a estátua do mascote Gil é provavelmente o melhor representante de todo o imenso e significativo conjunto de transformações que fizeram do Parque das Nações um lugar de destaque não apenas de Lisboa, mas de Portugal e da própria Europa.
FONTES VULCÂNICAS
Acompanhando parte do percurso da Alameda dos Oceanos, dividindo-a em duas metades longitudinais, está o espelho d’água onde estão instaladas as Fontes Vulcânicas. Essas fontes, umas azuis outras vermelhas, com chaminés cônicas, vão se enchendo de água, através de um sistema hidráulico, e, ao atingir a pressão máxima, “explodem” a água acumulada, que cai, de forma ruidosa, levando à formação de pequenas ondas no espelho d’água. É um espaço de passeio, contemplação e descanso, onde a sombra e o frescor predominam e convidam a permanecer.
Os jatos d’água desses emblemáticos "vulcões" – seis cones no total, cada um com 4m de altura – se repetem a cada 25 segundos, num total de 1.600 erupções de água por dia. Estas erupções repentinas de água, alcançando 3m de altura, se desintegram formando duas ondas que rebentam no final dos dois canais longitudinais. Revestidos de azulejos policromáticos de diversos tamanhos, cujas cores vão do vermelho vivo ao verde, passando por uma série de tonalidades intermediárias, foram elaborados pela Viúva Lamego, conceituadíssima fábrica-atelier que desde 1849 é sinônimo de azulejaria em Portugal, unindo com seus azulejos métodos e temáticas tradicionais ao design moderno mais avançado.
De bônus, acompanhando parte do trajeto desses canais onde estão instaladas as Fontes Vulcânicas, a calçada, em pedra portuguesa, dá maior consistência à leitura criativa de toda a Alameda dos Oceanos. Pensada para os espaços mais nobres da alameda, onde os “vulcões de água” lançam regularmente seus jatos, o pintor e muralista português Ricardo Gouveia, conhecido como Rigo, criou um diálogo entre personagens de desenho animado e diversos motivos marítimos.
HOMEM-SOL
Voltando ao Centro Vasco da Gama, em frente à saída pela Alameda dos Oceanos está o Homem-Sol. De aspecto vagamente antropomórfico, essa escultura monumental em aço, do escultor lisboeta Jorge Vieira (1922-1998), tem cerca de 20m de altura e pesa cerca de 15 toneladas. Segundo os especialistas, Homem-Sol é uma espécie de testamento-síntese da obra que Jorge Vieira criou ao longo de uma carreira de cerca de 50 anos, fazendo uma simbiose entre surrealismo e abstração pura, esquematismo primitivista e exploração tridimensional.
CASINO LISBOA
A partir do Homem-Sol, à direita, a cerca de 400m, está uma atração cuja visita vai depender de quanto tempo você vai ter para dedicar ao seu passeio e de quanto estiver disposto a gastar. Falo do Casino Lisboa. O edifício, que foi inicialmente projetado pelos arquitetos Paula Santos, Miguel Guedes e Rui Ramos, abriga, desde abril de 2006, o maior cassino de Portugal. Instalado no espaço anteriormente ocupado pelo Pavilhão do Futuro da EXPO’98, a atual estrutura tem, ainda, entre suas atrações uma sala de espetáculos, o Auditório dos Oceanos.
PAVILHÃO DO CONHECIMENTO
Seguindo na mesma direção, cerca de 270m à frente, à esquerda, fica o Pavilhão do Conhecimento – Centro Ciência Viva. Espaço de divulgação científica e tecnológica, o Pavilhão está instalado no edifício que durante os 132 dias da EXPO’98 foi o Pavilhão do Conhecimento dos Mares, que tinha como objetivo conduzir o visitante a uma viagem de exploração pelos mares na sua perspectiva história, técnica e humana. Com projeto arquitetônico do atelier J.L. Carrilho da Graça e curadoria do atelier ARX Portugal, esse pavilhão foi um dos mais visitados da EXPO’98, tendo recebido mais de 2,5 milhões de visitantes.
A partir de julho de 1999, o pavilhão, ressignificado, reabre as portas ao público como Pavilhão do Conhecimento – Centro Ciência Viva e desde então tem funcionado, segundo seus gestores, como um núcleo de interesse, um polo de atração e um parceiro qualificado na promoção da educação científica e tecnológica na sociedade portuguesa. Grandes exposições temáticas nas áreas da Física, Matemática, Química, Biologia e Ciências Sociais e centenas de módulos interativos tornam este centro uma casa de ciência para todos. Atividades no Laboratório e na Cozinha, que também é um laboratório, conversas com pesquisadores, atividades experimentais, dias temáticos, projeção de filmes e peças de teatro que têm a Ciência como tema completam o restante da programação.
O Pavilhão do Conhecimento é parte integrante da Rede Nacional de Centros Ciência Viva, que conta com 20 centros de ciência distribuídos por todo o território português. Embora dedique atenção especial a crianças e adolescentes, o Pavilhão é, sem dúvida, um espaço fascinante para qualquer pessoa que tenha interesse pela Ciência.
JARDINS DA ÁGUA
Ao sair do Pavilhão do Conhecimento, caminhe em direção à Rotunda República Argentina e dobre à esquerda. À sua frente aparece um muro revestido de mosaico bizantino em 20 tons diferentes com janelas através das quais você vai vislumbrar os Jardins da Água. A obra, denominada de Cortina, é da artista plástica Fernanda Fragateiro e pretende criar a ilusão de uma cortina em movimento. Também é dessa artista a escultura A Girafa (ao espelho), instalada dentro do jardim, alguns metros adiante, assim como várias outros trabalhos instalados nessa área.
Depois de passar pela Cortina, você está nos Jardins da Água. Resultado de um trabalho em colaboração entre o arquiteto e paisagista João Gomes da Silva e Fernanda Fragateiro, que está presente em várias esculturas e peças de azulejaria, essenciais para a narrativa desse espaço público.
Criado para a EXPO’98, o jardim tem uma série de equipamentos educativos e desportivos que têm a água como temática principal. Remetendo a várias épocas históricas e culturas distintas, o espaço é constituído por várias partes: o Jardim das Palmeiras, o Pomar do Mediterrâneo, o Lago de Ulisses, o Edifício da Cascata, o Jardim Hidráulico, o Jardim das Ondas...
Em maio de 2018, os Jardins das Águas passaram a ter a denominação de Jardim Mário Ruivo, em homenagem ao cientista e político português, pioneiro na defesa dos oceanos e no lançamento das temáticas ambientais em Portugal, falecido em março do ano anterior.
TEATRO CAMÕES
Ao chegar ao Jardim das Ondas e tendo o Rio Tejo à sua frente, à sua direita fica O Teatro Camões, mais uma das dezenas das construções originalmente planejadas como parte do Projeto EXPO’98. Sua arquitetura, obra do Gabinete de Arquitetura Risco, sob a direção dos arquitetos Manuel Salgado e Marino Fei, tem uma presença forte e simbólica nessa área da cidade, dedicada ao lazer e ao uso dos espaços livres. Construído bem às margens do Tejo, o Teatro Camões oferece uma vista magnífica do Passeio do Neptuno e do Jardim da Água.
Voltando ao nosso ponto de observação anterior, no Jardim das Ondas, e ainda tendo o Rio Tejo à sua frente, à nossa esquerda estão duas das maiores e imperdíveis atrações do Parque das Nações: a Estação Sul do teleférico e o Oceanário. Vamos conhecer primeiro o teleférico.
TELECABINE LISBOA
Denominada oficialmente de Telecabine Lisboa, a linha do teleférico também é uma das centenas de heranças da EXPO’98. Ela é dotada de 40 cabines envidraçadas com capacidade de 8 passageiros. Seu trajeto caminha paralelamente a uma das margens do Rio Tejo, a poucos metros de distância. Começa na Estação Sul, situada no Passeio de Neptuno, bem em frente ao Oceanário, e percorre um trajeto de 1.230m, a uma altura de 30m, até a Estação Norte, no Passeio das Tágides, perto da Torre Vasco da Gama. A viagem dura de 8 a 12 minutos, por sobre uma paisagem deslumbrante do Parque das Nações. Dele, é possível observar o Oceanário, a Doca dos Olivais, o Pavilhão de Portugal, o Pavilhão Atlântico, o Pavilhão da FIL e a estação do Oriente, as torres São Gabriel e São Rafael, a Torre Vasco da Gama e a ponte Vasco da Gama.
Os preços são considerados bastante razoáveis em comparação com outras atrações europeias semelhantes: € 6,50 para o passeio apenas de ida e € 8,00 para ida e volta. Crianças entre 4 e 12 anos pagam, respectivamente, € 4,50 e € 5,50. Crianças até 3 anos de idade não pagam. Quanto ao horário de funcionamento, as telecabines começam a operar às 11h, indo até as 18h nos meses de inverno, até as 19h, no outono e na primavera, e até as 20h no verão, mas é importante consultar o site da operadora, já que esses horários estão sujeitos a mudanças.
Minha sugestão é que você faça o passeio de ida e volta e depois retome seu roteiro pelo Parque das Nações. Mas já vou logo avisando que a próxima atração requer um tempo maior – e que talvez valha a pena considerar outro dia para dedicar somente a ela ou, no máximo, a mais um ou dois outros pontos de interesse no Parque das Nações, como, por exemplo, o Pavilhão do Conhecimento e/ou o Centro Vasco da Gama para corujar vitrines ou fazer um pit stop gastronômico.
OCEANÁRIO DE LISBOA
Minha próxima sugestão é nada mais, nada menos, que o maior aquário do Mundo, com a reprodução de ambientes dos cinco oceanos e centenas de espécies de mamíferos, peixes, moluscos, crustáceos e aves marinhas. Trata-se do Oceanário de Lisboa.
Estamos falando de um espaço que recebe anualmente cerca de 1 milhão de pessoas, que percorrem as suas exposições, fazendo dele o equipamento cultural mais visitado de Portugal. Especialistas e turistas ressaltam a excelência de suas exposições e o simbolismo da arquitetura dos edifícios, que fazem do Oceanário um local único e inesquecível.
Projetado por uma equipe liderada pelo arquiteto Peter Chermayeff, o Oceanário é formado por dois edifícios – o original, dos Oceanos, e o novo, Edifício do Mar, projetado pelo arquiteto Pedro Campos Costa e inaugurado em 2011 – ligados por um enorme corredor decorado com um magnífico painel de 55 mil azulejos –, que oferece acesso às exposições e atividades educativas relativas aos oceanos e seus habitantes, à sua missão institucional, principalmente quanto aos desafios ambientais da atualidade. Além disso, o Oceanário também colabora com várias instituições em projetos de investigação científica, de conservação da biodiversidade marinha e que promovam o desenvolvimento sustentável dos oceanos. Essa experiência técnico-científica da sua equipe de biólogos e engenheiros assegura a excelência da exposição, além de capacitá-los a prestar consultoria aos mais variados aquários e instituições similares.
O preço do ingresso é meio salgadinho, mas não tenho dúvida de que vale a pena. A faixa mais cara é a das pessoas entre 13 e 64 anos de idade: € 19,00. Em seguida, vêm os idosos, que pagam € 15,00. Crianças entre 3 e 12 anos pagam € 13,00 e as crianças até 2 anos não pagam. O Oceanário funciona todos os dias do ano, das 10 às 20h, com exceção de 24 e 31 de dezembro, quando fecham às 19h, e 25 de dezembro, quando abrem às 11h.
PAVILHÃO DE PORTUGAL
Nossa próxima atração é o Pavilhão de Portugal, mais uma construção projetada para integrar a EXPO’98, tendo recebido naquele ano o prestigiado Prêmio Valmor, concedido ano a ano a uma obra arquitetônica de Lisboa. Saindo do Oceanário, você pode chegar a ele por dois caminhos. Pela charmosa passarela de madeira por sobre um espelho d’água – na verdade, uma extensão da margem do Rio Tejo – você vai até o Rossio dos Olivais e, depois, dobra à esquerda, no Cais Português. Esse caminho é ligeiramente mais longo, mas muito bonito. A alternativa um pouco mais curta é contornar o Oceanário pelo lado oposto, acessando diretamente o Cais Português. Neste caso, o bônus é descansar num dos bancos à sombra das árvores à esquerda dessa alameda, enquanto contempla o espelho d’água.
Projetado pelo arquiteto Siza Vieira, na época, o arquiteto moderno mais prestigiado de Portugal, o Pavilhão de Portugal constitui um dos marcos que permanecem da exposição. A sua configuração apresenta dois corpos: um edifício que se desenvolve em torno de um pátio, e uma enorme praça coberta, de 70 x 50m, por uma imponente aba de concreto extremamente fina, suspensa por cabos de aço, definida por dois pórticos de concreto.
Apesar de ter sido concebido para perdurar após a exposição, suas funções não haviam sido claramente definidas no início. Desde então, funcionou predominantemente como pavilhão de exposições, tendo também abrigado um restaurante, uma cafetaria e um bar. Atualmente, essa construção está a cargo da Universidade de Lisboa, que pretende realizar nele um programa de reabilitação e manutenção e transformá-lo num centro de pesquisa e de promoção de atividades de divulgação de ciência, arquitetura e promoção da lusofonia.
ROSSIO DOS OLIVAIS
Do Pavilhão de Portugal, voltamos ao Rossio dos Olivais, um dos mais emblemáticos cartões de visita do Parque das Nações e uma das imagens mais conhecidas em todo o mundo. Principal praça do Parque das Nações, o Rossio dos Olivais é mais uma criação do arquiteto e paisagista João Gomes da Silva. A notável cortina de choupos (ou álamos) em frente ao fantástico espelho de água que nos guia do ambiente urbano, representado pelo Centro Vasco da Gama, até o Rio Tejo é acompanhada pelo desfilar de bandeiras de todos os países que marcaram presença na EXPO’98.
No seu trajeto entre o Rossio dos Olivais e o Pavilhão de Portugal, aproveite para apreciar duas obras icônicas do Parque das Nações: o Rizoma e o Lince Ibérico – Bordalo II.
RIZOMA
O Rizoma é uma escultura em ferro composta por figuras humanas, em tamanho natural, que, ao se encaixarem umas nas outras, simbolizam a união entre os seres humanos, sugerindo, ainda, os ramos de uma árvore.
Seu autor, o londrino Antony Gormley, merece uma atenção especial. Graduado em Arqueologia, Antropologia e História de Arte no Trinity College, em Cambridge, após sua graduação, em 1971, viajou para o Sri Lanka, onde estudou budismo durante 3 anos. Trabalha há vários anos com a figura humana em esculturas baseadas em vetores, através de investigação do corpo e da memória. Usa o próprio corpo como material, tema e ferramenta, desenvolvendo uma preocupação recorrente com a condição humana.
LINCE IBÉRICO
Bem perto do Rizoma está o Lince Ibérico, escultura do jovem artista português Artur Bordalo, nascido em 1987, mais conhecido como Bordalo II. A escultura é uma recordação do Fórum Mundial da Juventude Lisboa+21, realizado em junho de 2019 e que juntou ministros da juventude para debater vários temas, com destaque para as questões ligadas ao ambiente.
Bordalo II é neto do também artista plástico Real Bordalo, falecido em 2017 aos 91 anos de idade – o primeiro Bordalo famoso. Começou seu trabalho através da grafitagem e foi paralelamente desenvolvendo as técnicas que tornaram suas obras – todas elas produzidas com lixo – tão conhecidas. Para essa escolha, Bordalo II tem uma frase que se tornou seu cartão de visitas: “O lixo de uns é um tesouro de outros”.
ALTICE ARENA
Cruze o Rossio dos Olivais na direção oposta ao Rizoma e ao Lince Ibérico. Logo à sua frente fica o Altice Arena, o maior pavilhão de eventos de Portugal. Na verdade, esse espaço multiuso, com um conjunto de salas preparadas para receber os mais variados eventos, é mais uma das muitas realizações arquitetônicas encomendadas para a EXPO’98.
Ao contrário de outras cidades europeias, Lisboa não possuía uma sala polivalente para acolher espetáculos, congressos e eventos desportivos de grande envergadura. As salas existentes, tanto na capital como em outros pontos do país, ou tinham lotação limitada – até 4 mil lugares –, ou eram dificilmente adaptáveis a eventos não convencionais, como o desporto de alta competição em espaço coberto. Além disso, esses locais também não dispunham de uma estrutura tecnológica para coberturas televisivas modernas ou para grandes espetáculos musicais ou teatrais.
É a partir dessa constatação que foi pensado o então denominado Pavilhão da Utopia, a partir de um projeto do arquiteto português Regino Cruz. Além de cumprir as novas exigências tecnológicas e de público, a ideia foi construir o pavilhão em uma localização que servisse não só a população da maior área metropolitana portuguesa, mas também o país no seu conjunto, dada a proximidade da Estação do Oriente.
O Altice Arena – que também já foi denominado Pavilhão Atlântico e MEO Arena – tem capacidade para 20 mil pessoas e já recebeu, entre outros, shows de Ivete Sangalo, Iron Maiden, Shakira, Jennifer Lopez, Lady Gaga, Rihanna, Guns N’Roses, Madonna, Adele, Sandy e Júnior e Justin Bieber.
LAGO DAS TÁGIDES
Bem em frente ao Altice Arena fica o Lago das Tágides, conjunto de esculturas de figuras femininas em mármore dentro de um lago que remetem às Tágides, figuras míticas a quem o poeta Luís de Camões pede inspiração para compor seu poema épico Os Lusíadas, de 1572. Na visão do autor das esculturas, o escultor João Pires Cutileiro, as tágides aparecem como meninas nuas que brincam despreocupadamente na água.
FEIRA INTERNACIONAL DE LISBOA
Nossa próxima parada é a FIL – Feira Internacional de Lisboa, espaço onde acontecem as maiores feiras temáticas de Portugal. Originalmente, a FIL estava localizada no bairro da Junqueira, tendo sido transposta para o Parque das Nações em 1999, enquanto o espaço anterior se transformou no Centro de Congressos de Lisboa.
Ocupando uma área total de 100 mil m² e com uma área coberta de cerca de 43 mil m², o pavilhão da FIL é composto por quatro naves de dimensões semelhantes (10.368m²) com 144m de comprimento e 72m de largura. Outra das principais características é a altura de cada uma das naves, que varia de 10 a 14 metros de altura, pensada para acomodar estruturas para a realização de grandes eventos. Os quatro pavilhões estão interligados por uma ponte metálica exterior. Além dos pavilhões, o espaço tem também um moderno Centro de Reuniões, com 3 auditórios e 5 salas de reunião, um pavilhão multiusos com cerca de 1.200m², diversas áreas comerciais (lojas e restaurantes) bem como um parque de estacionamento subterrâneo com capacidade para 830 veículos.
TORRE VASCO DA GAMA
Se você me seguiu até aqui é porque já me acompanhou no passeio de teleférico da Telecabine Lisboa. Neste caso, já viu de perto a Torre Vasco da Gama, que fica a apenas 200m da Estação Norte da Telecabine. Essa torre, moldada em estrutura mista com cerca de 140m de altura, foi projetada pelos arquitetos Nick Jacobs e Leonor Janeiro, com estruturas de Nuno Costa, para a EXPO’98. Durante a exposição, a estrutura circular no alto da torre abrigava um restaurante de luxo com vista panorâmica para o Rio Tejo, que ainda permaneceu aberto por cerca de três anos após a exposição.
Desde novembro de 2012, a torre, que é o mais alto edifício de Portugal, funciona como um hotel de luxo, o Myriad, da cadeia de SANA Hotéis, tendo sido adicionado ao conjunto inicial, em 2009, um edifício criado pelo arquiteto Nuno Leónidas. O hotel conta com 176 quartos e 10 suítes, tem dois restaurantes – incluindo o restaurante panorâmico no alto da torre, que continua funcionando –, bar, spa, piscina coberta. Além disso, o Myriad também dispõe de 3 salas de reuniões, ligadas ao hotel por uma ponte aérea coberta, um moderno Centro de Eventos e Conferências com mais 7 salas de reuniões, 5 salas de conferência, foyer e terraço, num total de 1.690m². No topo da torre, um mastro sustenta permanentemente uma imensa bandeira de Portugal, que se tornou uma das referências do Parque das Nações.
HOMEM MURALHA
Quase ao final do nosso passeio pelo Parque das Nações, convido você a visitar a obra O Homem Muralha, do escultor angolano Pedro Pires, localizada junto ao edifício Terraços da Expo, a menos de 200m da Torre Vasco da Gama, voltada para a Praça do Tejo.
Inaugurada em 2008, O Homem Muralha é uma peça figurativa composta por cinco esculturas antropomórficas voltadas para diferentes direções, com pequenas diferenças entre si. Cada uma delas é formada por pequenos quadrados de ferro, como se fossem os pixels de uma fotografia digital. Segundo o autor, a ideia é questionar o conceito de identidade no mundo industrial contemporâneo.
69 HOMENS DE BESSINES
Deixando pra trás a Praça do Tejo, vamos pegar a Rua Comandante Cousteau e, depois, dobrar à direita, voltando à Alameda dos Oceanos. Depois, tomando a direita, continuamos pelo Passeio dos Jacarandás, atravessando a Rua de Moscavide, até chegar a um edifício de estrutura semicircular. Bem na frente dele ficam os 69 Homens de Bessines, do escultor francês Fabrice Hybert, um conjunto de fontes formadas por 69 figuras humanas em resina e aço inoxidável, das quais de forma bastante inusitada jorram dezenas de jatos d’água.
Os 69 homens da obra, na verdade, nasceram em 1989, quando Hybert criou uma escultura para uma praça pública da cidade francesa de Bessines. Essa escultura se constituía de um pequeno homem verde de 86cm de altura – personagem imaginária, de silhueta familiar e desenvolta, mas que ao mesmo tempo remetia ao nosso imaginário sobre seres extraterrestres. Depois de 1989, essee outros homenzinhos verdes idênticos invadiram pouco a pouco as cidades em França e no mundo, indo parar na EXPO’98. Instalados sobre a água, os Homens de Bessines, herdeiros daquele primitivo personagem de 1989, compõem também uma fonte, ao lançar água por onze orifícios corporais.
MIRADOURO DA PONTE VASCO DA GAMA
Fechando nosso longo, provavelmente cansativo, mas também prazeroso passeio pelo Parque das Nações, convido você para uma última caminhada até o Miradouro da Ponte Vasco da Gama. Da fonte dos 69 Homens de Bessines até lá são 700m. Basta continuar pelo Passeio dos Jacarandás, cruzar a Rua Ilha dos Amores e continuar pelo Terreiro dos Corvos até o Largo das Esplanadas. De lá, é só seguir em frente pelo Caminho das Gaivotas.
Mas, afinal, o que há para ver do Miradouro da Ponte Vasco da Gama? Obviamente, a Ponte Vasco da Gama, uma magnífica ponte estaiada sobre o estuário do Rio Tejo, ligando Lisboa à cidadezinha de Alcochete.
Com 12,3km de comprimento, ela é a mais longa ponte da União Europeia, a segunda mais longa da Europa e uma das mais extensas do mundo. Inaugurada em março de 1998, dois meses antes da abertura da EXPO’98, foi construída como alternativa à congestionada Ponte 25 de Abril e também evitar que o fluxo de veículos entre o norte e o sul de Portugal passasse pelo centro de Lisboa. Ao mesmo tempo, por ser uma construção que cruza o Parque Nacional do Estuário do Tejo, uma importante área em nível europeu de nidificação e alimentação de aves aquáticas, foi necessário tomar cuidados especiais com o impacto ambiental.
Foto: F. Mira (2009)
O passeio pelo Parque das Nações que propus aqui não é o único nem o mais completo. Essa bela área de Lisboa tem atrações para os mais variados gostos e bolsos: centros de compras de produtos de grife, jogos, atividades culturais, áreas de lazer para crianças e adultos, gastronomia, atividades esportivas etc. Além disso, é um verdadeiro museu a céu aberto, com obras de arte nas ruas, alamedas e calçadas. Isso sem contar as vistas panorâmicas que oferece, a partir das cabines do teleférico, dos terraços e varandas de várias construções, de suas torres... É um interessante e arrojado contraponto à Lisboa histórica e tradicional, propondo um interessante diálogo entre o velho e o novo. Enfim, espero ter estimulado sua vontade de conhecer o Parque das Nações assim que for possível.
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